Crónica sobre a visita de Norberto Macedo a Portugal

Norberto Macedo, nasceu em 1939 no concelho de Tabuaço, freguesia de Barcos, aldeia vinhateira do Douro. Cedo se viu arrancado ao crescer no seu rincão natal. Emigrou com a família para o Brasil em 1952, tendo chegado ao Rio de Janeiro no dia 5 de Dezembro, dia do seu aniversário. Com 13 anos de idade, teve que fazer e lutar pela vida. Empregou-se no comércio, mas a sua apetência e atracção pela arte dos sons levou-o a estudar e a dedicar-se inteiramente à música e ao violão, o instrumento que desde logo escolheu para transmitir as suas emoções, sentimentos e sonhos. Apesar de contrariado pelos familiares, não desistiu do seu intento, do forte apelo que desde muito novo o impulsionava, acabando por se impor no riquíssimo e exigente ambiente musical brasileiro quer como compositor quer como intérprete. Várias gerações beneficiaram e continuam a beneficiar do seu saber, da sua pedagogia, do gosto que empresta em transmitir o seu virtuosismo a quem o solicita como professor de violão, ao longo de quatro décadas.
Cinquenta e dois anos depois, Norberto Macedo teve o ensejo de visitar a sua terra natal, o seu pátrio Douro, e de mostrar toda a sua arte musical. Desde logo conquistou aplausos e simpatia, mercê das suas qualidades artísticas e humanas.
Três anos volvidos, graças ao patrocínio da Câmara Municipal de Tabuaço que, verdade seja dita, não se tem poupado a esforços para engrandecer culturalmente o nosso concelho e enaltecer os seus ilustres filhos, Norberto Macedo pôde tornar pela segunda vez a Portugal, acabando por dar três recitais nas terras de Baco: o primeiro no dia 21 de Setembro, na quinta vinhateira do Panascal, à guisa de encerramento com chave de ouro do colóquio “Abel Botelho entre nós”; o segundo, no dia 22 do mesmo mês, na Biblioteca Municipal, a quando do lançamento do livro “Tabuaço Dour(o)ado – Cantata a dois” com que os autores (Ernesto Leandro e André Moa) fazendo jus às reminiscências da sua juventude, pretendem homenagear e exaltar a sua terra, o seu concelho, a sua região – a vila de Tabuaço, o concelho de Tabuaço, a região do Alto-Douro. Dias depois, na igreja matriz de Tabuaço, Norberto Macedo efectuou um terceiro recital. Esteve ainda previsto um quarto para a Igreja Matriz de Barcos, acabando por não se realizar devido à falta da necessária coordenação entre as entidades envolvidas nos eventos das festas de Barcos, aldeia vinhateira. Com a necessária programação e uma adequada publicitação, outros recitais poderiam ter ocorrido, para regalo de muita mais gente. O ser época das vindimas e a simultaneidade de muitos outros afazeres, nomeadamente de cariz cultural, como o já referido colóquio sobre Abel Botelho e a Festa das vindimais (realizada com brilhantismo e profunda significação na aprazível zona da confluência do rio Távora com o rio Douro) constituirão certamente fortes atenuantes para o parcial desaproveitamento da estada de Norberto Macedo entre nós. O óptimo é inimigo do bom, mas bem bom quando o bom acontece. E aconteceu. A vinda de Norberto Macedo constituiu um marco no desenvolvimento cultural de Tabuaço. Deixou sementes em muitos corações e muitas mentes e o próprio Norberto Macedo sentiu e reflectiu sobre as sementes que espalhou e viu outros espalhar no chão ávido de cultura destas paragens. Tanto que está na disposição de se radicar na sua terra de origem e aqui ficar à disposição das Câmaras Municipais da região e (ou) de instituições culturais da região, propondo-se ensinar as camadas jovens e demais interessados, por forma a poderem surgir grupos de violas com saber e sensibilidade que possam engrandecer o bom nome das nossas queridas terras durienses e, ao mesmo tempo, servirem de pólo de atracção e distracção para os turistas que num futuro próximo nos possam visitar.
Norberto Macedo deu ainda três recitais em Lisboa nos passados dias 25, 26 e 31 de Outubro, sendo o primeiro integrado num congresso da Associação Nacional dos Centros de Cultura e Desporto. Os restantes dois – um no Museu da Água – Reservatório da Patriarcal; outro no Centro Cultural Casapiano – foram precedidos da apresentação do livro “TABUAÇO DOUR(O)ADO”.
No dia 2 de Novembro deslocou-se a Évora para dois recitais na BE/CRE da EBI André de Resende – um dedicado aos jovens e outro aos adultos.
Norberto Macedo regressou esta manhã ao Brasil, onde o aguardam, ansiosos, familiares e alunos. Partiu saudoso e com vontade de voltar, se e logo que possível. “Que volte cedo e bem!”. São os votos deste seu admirador e incondicional amigo.
Norberto Macedo – o artista e o homem – bem merece a minha admiração e a minha amizade. Tal como a admiração e a amizade de quem já teve o privilégio de o ouvir e de com ele conviver, de se regalar com a magia da sua arte e de conhecer de perto o coração generoso e a alma simples, franca, aberta, enriquecedora que ele possui, como só os grandes homens possuem.
Lisboa, 4 de Novembro de 2007
André Moa